A ETERNIZAR NA MEMÓRIA

Num passado recente tive uma das melhores experiências de sempre. Passei uma noite num acampamento beduíno em pleno Sahara. O que tem isto de estranhar em mim? No eu atual rigorasamente nada. No eu de há 5 anos atrás seria perfeitamente impensável. Isto prova que não existe nunca nem sempre. O que se passou comigo, passou-se com muitos certamente.
Esta é uma experiência envolta num pacote maior de descoberta pelo sul de Marrocos, promovida pela Sud Expeditions que colocou à nossa disposição o melhor motorista/guia - Hassan. Com ele aprendemos muito sobre Marrocos, sobre o seu povo, sobre a sua cultura e modo de vida. Um amigo em viagem foi o ganho que tivemos.
 Vamos aos dados práticos dos 3 dias de expedição: Dia 1 - Partida de Marraquexe para o Alto Atlas, passando pelas terras dos mil Kasbahs (castelos ou casas fortificadas) culminando em Ouarzazate no fim do dia. Dia 2 - Gargantas do Todra e caminho até Merzouga para iniciar caminho ao deserto "profundo". Breve passagem pelo Auberge du Sud e viagem de dromedário até ao acampamento, viagem esta feita por sinuosas dunas penteadas pelo forte vento que se fazia sentir nesse dia no deserto. Jantar e dormida no acampamento beduíno, onde fomos sempre acompanhados pelos homens de duas famílias berberes (as mulheres e crianças tinham ido a um casamento) que nos receberam sublimemente. Dia 3 - Alvorada às 6h para contemplar o nascer do sol no topo de uma alta duna. Pequeno-almoço no acampamento e regresso ao Auberge du Sud com os amigos dromedários. Atualização do estado de higiene corporal e regresso a Marraquexe por caminhos diferentes do Atlas dos iniciais.
Foi uma experiência inesquecível, totalmente fora do padrão ocidental e talvez por isso me tenha seduzido tanto esta aventura. Enterneceu-me especialmente conhecer o povo do sul, de uma amabilidade e humildade imensas, sempre com um sorriso a receber os turistas que por ali passam, sem ver neles uma oportunidade de negócio (ou "fat cows" designando os turistas, como li certa vez na Wikitravel sobre a forma como são vistos os turistas pelo povo de Marraquexe). É uma gente simples, despretensiosa, que vive com pouco mas que sem o pretender nos ensina muito, especialmente a repensar o materialismo instalado nos nossos costumes.
Jamais esquecerei o nascer do sul unicamente rodeado de areia, num silêncio imenso que alimenta a paz única que se vive no deserto.
Saí mais rica desta experiência e espero que a vida me dê a possibilidade de voltar. Até sempre Marrocos!