PÉROLA TUNISINA

Banhada pelo calmo e harmonioso Mediterrâneo e em plena costa tunisina, está a cidade de Mahdia, um autêntico paraíso balnear (felizmente) pouco explorado, mas repleto de história.
Dista a 4h de Tunis de carro ou autocarro, possivelmente um forte motivo para se tornar pouco atrativa aos pacotes turísticos vendidos em massa pelas agências. Só os mais convictos aqui chegam e se hospedam. É bela e serena, completamente fora dos padrões do habitual contexto balnear tunisino que caracteriza Hammamet, Sousse, Port El Kantoui ou até mesmo a vizinha Monastir. Não tem enchente de turistas, o que facilita o avistamento dos locais nas suas funções habituais.
O peixe é o ouro da terra e traz o pão à mesa na casa muitas famílias. A pesca é uma das atividades mais representativas da cidade e o seu porto é um autêntico "reboliço" quando o peixe chega a terra, ora para vender de imediato, ora para conservar numa das fábricas de conserva ali instaladas.
Mas não só de peixe vive Mahdia. Mais para oeste existe um imenso olival, cujas azeitonas dão origem ao valioso azeite que também é usado como matéria prima na produção de sabão. 
Aliado à pesca e à produção de azeite está o artesanto, à semelhança do que acontece no resto do país. Trabalhos com têxteis, joalharia, couro, madeira e outros materiais estão bem presentes por aqui e encontram-se com facilidade nas lojas que dão vida à medina. 
Quem vagueia pelas ruas da cidade não tem, provavelmente, noção da história que conta esta cidade pacata, à beira mar situada. Mahdia foi "poiso" de fenícios, cartagineses, romanos, fatimidas, caridjitas, ziridas, normandos, almóadas, venezianos, genoveses, berberes, otomanos, espanhóis. Todos os povos que por ali passaram viram nela oportunidades, daí que tenha sido cercada por diversas vezes e tenha sofrido imensas tentativas (e não só tentativas) de ataques de invasão marítima.
A 6 km da costa está uma das mais maiores preciosidades do país, no âmbito da arqueologia submarina: um navio naufragado que data do século I A.C., repleto de objetos de arte ateniense, só descoberto há pouco mais de um século.
Visitei o centro da cidade numa tarde de fim de verão a seguir ao almoço, verão esse ainda algo quente. Por terras do Magrebe o calor não faz as malas com facilidade. A caminhada foi iniciada junto ao mar, percorrendo o passeio marítimo de ótima qualidade à disposição de locais e turistas que aqui contemplam a beleza do mar ou acedem à praia. Uma rotunda faz revelar o seu produto mais nobre e popular com uma escultura gigante. Mais à frente avistam-se uma sereia, pedras pintadas e ao fundo fachadas cobertas de cal e portas azuis. E o azul. O azul de um mar fértil e imenso. O coração da cidade aproxima-se a passos largos e a porta da medina impera junto a uma rotunda decorada a mosaicos com mais do mesmo - peixe. A porta é grandiosa, obra do século X - Bab Zouila. Na época, em 2010, a foto do presidente vigente reflete ainda um período negro da história do país. Cheira a especiarias. Há bancas de rua a vendê-las. Desbravamos medina e encontramos a Grand Mosquée, em estilo peculiar: sem minarete. Embora o aspeto ocidental rapidamente denuncie tanto a mim como a qualquer outro elemento do grupo que comigo segue, percorremos o pátio e olhamos com descrição o interior de uma das salas de oração. Pouco conseguimos ver além dos vigilantes com cara de poucos amigos. Seguimos rumo ao cemitério junto ao mar, com campas de um e outro lado da estrada. No caminho contempla-se uma arquitetuta explêndida em portas e janelas de execução elaborada. Todas as campas têm a sua cabeceira virada para Meca, local sagrado para os muçulmanos. São de todos os tamanhos os túmulos e culminam junto ao que sobrou da fortificação, que em 1554 os espanhóis fizeram explodir ao abandonarem a cidade. Próxima paragem no forte de Borj el Khabir, que data do século XVI, onde se tiram fotos nos canhões ainda presentes. Num regresso ao centro encontra-se a Tunísia em estado puro, onde nem um único turista (além de nós) se avista. Veêm-se portas e portas, todas diferentes, todas únicas. Uma escola. Um minarete de arquitetura turca (formato hexagonal). Crianças que brincam na rua. Vendedores que nos aliciam a entrar nos seus estabelecimentos. À saída da medina uma tatuadora que com gestos rápidos e precisos cria arte com hena na pele das mulheres que ali recorrem. No terminar da tarde, um regresso ao hotel de tuc-tuc, depois do regateio necessário com o motorista, com muitos risos e gargalhadas acompanhados de um vento refrescante junto à marginal.
Mahdia...Linda.






































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